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14 de novembro de 2009

Bruno M.Lima 'Crítica literária' Category





Interessa-me na crítica de um livro uma análise que transcenda a literatura; que faça dela uma ponte para a incursão histórica, política, sociológica, antropológica, cultural, civilizacional.


Crítica literária encerrada em si mesma inspira compaixão em seu paupérrimo funeral público. A análise de uma obra que se vale dos insuficientes instrumentos teóricos da teoria literária é um cadáver insepulto que expele miasmas e odores por onde é publicada.


Como não ver corrupção e vilania na soberba difundida pela maior parte dos resenhistas e críticos literários, essas entidades perversas que não raras vezes hipervalorizam esse ofício janota?


Para onde ia James Joyce?




Depois que James Joyce escreveu aquele monumento literário chamado Ulisses era natural que criasse, ao mesmo tempo, uma via de mão única. É extraordinário que o romance inaugural de um novo modelo de prosa é o mesmo que decreta o início e o fim de si mesmo. Para os outros era impossível imitá-lo ou tê-lo como manual do romance moderno; para Joyce, ou se superava enquanto escritor ou decretava a morte pública através de uma experiência radical de linguagem. E veio Finnegans Wake, “the illegible book”, nas palavras de um professor de inglês que tive em Cambridge.


Finnegans Wake é o atestado de óbito da invenção literária cuja causa mortis só era conhecida por Joyce, a mãe em estado puerperal. Já li e ouvi que Finnegans Wake não era um livro para ser lido. Alguns afirmam que aquilo sequer podia ser considerado uma obra literária, tamanho o delírio, tamanha a transgressão. Em carta, Joyce confessou seu desejo em voltar a escrever um romance na forma tradicional. Como imaginar o resultado literário do livro que sequer chegou a ser escrito depois dessas duas experiências abissais (Ulisses e Finnegans Wake)?


Num exercício de imaginação posso tentar uma aposta provocadora: sem a preocupação com a forma iria direcionar seu talento para a história e para os personagens. Mas ao escrever isso desvalorizo o trabalho de artesão feito por Joyce em Ulisses na construção e condução dos personagens e da história. Como seria o último livro do Joyce? Um Ulisses sem os experimentos? Um Dublinenses mais maduro e ainda melhor escrito? Será que Joyce, mesmo que não tivesse morrido, continuaria a escrever?


Perguntas sem respostas são igualmente interessantes e inúteis.


PS: O vídeo com o excelente Miguel Esteves Cardoso que inseri no post Transatlântico: Miguel Esteves Cardoso, um homem civilizado está novamente disponível. Se ainda não viu, corra lá!


Tradutora e crítica italiana lança livro sobre obra do poeta José Régio
Maio 25th, 2008 | Category: Crítica literária, Literatura




A tradutora e crítica italiana Maria Bochicchio, que além de inteligente escreve divinamente, lança na terça, 27, seu livro O paradigma do pudor - edição crítico-genética de “A Chaga do Lado”, de José Régio. Estarei lá, firme e forte, como diria meu buldogue, o Barão de Münchausen. Os leitores portugueses ou os brasileiros que estiverem por aqui recomendo vivamente dar um pulo lá.



Do prefácio desse livro que ainda não li, reproduzo duas opiniões abalizadas:



“Um óptimo exemplo de edição crítico-genética (…), um modelo de reconstrução filológica do itinerário que presidiu à elaboração da colectânea [A Chaga do Lado]. (…) ao contrário do que tem sido corrente afirmar, uma obra importante do cânone regiano e não um livro que anuncia o começo da decadência do poeta. Nesse aspecto, subscrevo, com gosto, a importância que a investigadora italiana lhe atribui e que tão galhardamente se esforça por fundamentar. (…) E fê-lo com inteligência, calor e sensibilidade – aquela sensibilidade que Régio dizia dar asas à própria inteligência”.



Giuseppe Tavani (catedrático de Filologia Românica e professor emérito da Universidade de Roma La Sapienza)



“Estamos na presença de uma poesia que expressa, com a escolha corajosa da forma satírica – e isto numa época de forte censura –, a inquietude e a indignação de uma consciência”.


Eugénio Lisboa (ensaísta e crítico literário)


Quem nunca ouviu falar do poeta portguês José Régio sugiro que leia também aqui. Alguns poemas podem ser lidos no Jornal de Poesia. Infelizmente, não achei na internet qualquer trecho de A chaga do lado.



obrigado por me olvir

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