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7 de outubro de 2009

Viver Para Quê? Ensaios sobre o Sentido da Vida


Bruno .M. Lima
Tradução e introdução de Bruno .M. Lima
Bruno Matheus de Lima, 2008, 209 pp.


Esta antologia reúne seis textos de filosofia contemporânea sobre o sentido da vida, precedida por uma introdução generosa do organizador. Os textos incluídos são os seguintes:


1. O Sentido da Vida (1970) Richard Taylor


2. O Sentido da Vida (1957) Kurt Baier


3. Poderá o Propósito de Deus ser a Fonte do Sentido da Vida? (2000) Thaddeus Metz


4. O Absurdo (1971) Thomas Nagel


5. Felicidade e Sentido: Dois Aspectos da Vida Boa (1997) Susan Wolf


6. Despromoção e Sentido na Vida (2005) Neil Levy


O estudo contemporâneo do problema filosófico do sentido da vida começa praticamente com o artigo "O Absurdo" (1971) de Thomas Nagel, incluído nesta antologia. Apesar de haver alguns artigos anteriores, Nagel mostrou que um filósofo muitíssimo influente podia tratar este tema sem cair no ridículo e que esse trabalho podia ser publicado numa das mais prestigiadas revistas académicas de filosofia: The Journal of Philosophy


O trabalho mais influente sobre o sentido da vida nas últimas décadas do séc. XX, sobretudo nos EUA, foi o último capítulo do livro Good and Evil (1970), de Richard Taylor, incluído nesta antologia, publicado quase em simultâneo com o artigo de Nagel. O registo escrito da conferência de Kurt Baier proferida em 1957 sobre o tema, também incluída nesta antologia, circulava desde há bastante tempo entre estudantes e professores; este trabalho, contudo, só viria a circular amplamente a partir de 2000, quando foi publicado na antologia de textos sobre o sentido da vida organizada por Klemke para a Oxford University Press. Por esta altura, já o problema do sentido da vida era insistentemente abordado nas revistas académicas, surgindo também cada vez mais livros inteiramente dedicados ao tema.


Esta antologia põe o leitor em contacto com esses e outros importantes ensaios filosóficos contemporâneos sobre o sentido da vida. Os ensaios foram dispostos por ordem parcialmente cronológica e parcialmente temática.


O ensaio de Taylor é o primeiro desta antologia e apresenta uma resposta subjectivista ao problema do sentido da vida. Esta posição baseia-se na convicção de que, objectivamente, a vida não tem sentido; contudo, tem sentido para nós desde que sejamos felizes e estejamos imersos na própria vida. Esta é uma resposta muito comum entre pessoas que não são religiosas e que desconhecem a bibliografia sobre o tema — em parte, talvez, porque hoje em dia é comum pensar que "os valores" são relativos ou subjectivos. Será uma surpresa para o leitor descobrir que os filósofos actuais aceitam quase todos, como observa Levy no último ensaio desta antologia, a tese objectivista sobre os valores e o sentido da vida, defendida por Susan Wolf (cujo influente artigo se inclui nesta antologia) e David Wiggins.


O segundo ensaio da antologia é a referida conferência de Baier, que defende três ideias centrais:


1. A concepção que hoje temos do problema do sentido da vida está fortemente influenciada pela mundividência medieval judaico-cristã, segundo a qual a vida terrena é vista como meramente instrumental para a vida depois da morte.


2. A convicção contemporânea de que sem Deus a vida não tem sentido resulta precisamente de se juntar a descrença na existência de Deus com a concepção medieval de sentido. Mal se abandona a concepção medieval de sentido, a inexistência de Deus não põe em causa o sentido da vida. O leitor pode averiguar por si em que medida este diagnóstico de Baier se aplica ou não às ideias de Taylor.


3. Ao contrário do que é comum pensar por influência da mundividência judaico-cristã, só se Deus não existir é que a vida pode ter sentido. Baier defende assim uma posição sobre o sentido da vida antagónica à religião. O ensaio de Baier oferece ainda um estudo importante sobre a natureza das explicações, para clarificar a famosa pergunta de Leibniz (1646-1716): por que há algo e não o nada?


A Baier segue-se um artigo de Thaddeus Metz, que procura mostrar que algumas das críticas de Baier à teoria medieval do sentido da vida, concebida em termos de um propósito divino, são improcedentes. Contudo, apresenta outras críticas que no seu entender são suficientes para derrotar qualquer teoria do sentido baseada no propósito divino. Metz apresenta então um novo tipo de teoria do sentido da vida centrada em Deus, que não padece dos defeitos da teoria medieval do propósito. A sua conclusão é que este novo tipo de teoria, apesar de ser a mais plausível, apresenta sérias dificuldades.


O quarto ensaio desta antologia é o referido artigo de Nagel. Na primeira parte, Nagel apresenta algumas refutações hoje praticamente canónicas de algumas ideias erradas sobre o sentido da vida. A ideia de que a nossa vida não tem sentido porque somos seres minúsculos, que habitam um minúsculo planeta num vastíssimo universo, é refutada fazendo notar que se a nossa vida não tem sentido por sermos pequenos, não se percebe por que razão ganharia sentido se fôssemos muitíssimo maiores. Nagel refuta também a ideia de que a vida não tem sentido porque somos efémeros e porque daqui a um milhão de anos ninguém se importará com o que fizermos hoje. Nagel defende que se a vida não tem realmente sentido, não se percebe como o adquiriria se a nossa existência fosse eterna; e que se o que hoje fazemos não terá importância daqui a um milhão de anos, então também não tem importância hoje que não tenha importância daqui a um milhão de anos.


Na segunda parte do seu ensaio, contudo, Nagel defende que a nossa vida é absurda apesar de ser subjectivamente valorizada. Nagel considera que a nossa vida é absurda precisamente porque há uma dessintonia entre o valor que damos à nossa vida, subjectivamente, e o reconhecimento de que objectivamente a nossa vida não tem tal valor. A posição de Nagel parece depender de uma concepção anti-objectivista do valor, nomeadamente do valor moral, e essa poderá ser a sua maior fraqueza.
O quinto ensaio desta antologia, de Susan Wolf, marca uma fronteira importante nas discussões contemporâneas sobre o sentido da vida. Wolf defende uma concepção objectivista do sentido da vida, e uma subtil ligação entre a felicidade e o sentido, objectivamente concebido. Sem apresentar uma concepção objectivista do valor, problema que extravasa o tema do sentido da vida, Wolf defende que uma vida tem sentido quando consiste na entrega activa a projectos de valor.


O último ensaio desta antologia é também o mais recente. Neil Levy procura resolver um problema que fica aparentemente em aberto na concepção objectivista de sentido de Wolf e de outros filósofos. Se a vida tem sentido quando nos entregamos activamente a projectos de valor, o que acontece à nossa vida quando atingimos os objectivos de tais projectos? Concordando com a intuição comum, manifestada por Taylor e vivida por John Stuart Mill (1806-1873), de que o sentido da nossa vida cessa mal os nossos projectos chegam a bom porto, Levy defende a existência de um certo tipo de projectos que são constitutivamente abertos; a entrega a projectos deste tipo garante aquilo a que chama o "sentido superlativo".

8 de Setembro de 2009 • Filosifica Publica

Viver Para Quê? Ensaios sobre o Sentido da Vida, org. de Desidério Murcho
Tradução e introdução de Desidério Murcho
Lisboa: Dinalivro, 2009, 208 pp.
Esta antologia reúne seis textos de filosofia contemporânea sobre o sentido da vida, precedida por uma introdução generosa do organizador. Os textos incluídos são os seguintes:


1. O Sentido da Vida (1970) Richard Taylor


2. O Sentido da Vida (1957) Kurt Baier


3. Poderá o Propósito de Deus ser a Fonte do Sentido da Vida? (2000) Thaddeus Metz


4. O Absurdo (1971) Thomas Nagel


5. Felicidade e Sentido: Dois Aspectos da Vida Boa (1997) Susan Wolf


6. Despromoção e Sentido na Vida (2005) Neil Levy


O estudo contemporâneo do problema filosófico do sentido da vida começa praticamente com o artigo "O Absurdo" (1971) de Thomas Nagel, incluído nesta antologia. Apesar de haver alguns artigos anteriores, Nagel mostrou que um filósofo muitíssimo influente podia tratar este tema sem cair no ridículo e que esse trabalho podia ser publicado numa das mais prestigiadas revistas académicas de filosofia: The Journal of Phiosohy.


O trabalho mais influente sobre o sentido da vida nas últimas décadas do séc. XX, sobretudo nos EUA, foi o último capítulo do livro Good and Evil (1970), de Richard Taylor, incluído nesta antologia, publicado quase em simultâneo com o artigo de Nagel. O registo escrito da conferência de Kurt Baier proferida em 1957 sobre o tema, também incluída nesta antologia, circulava desde há bastante tempo entre estudantes e professores;


Filosifica Publica




Este trabalho, contudo, só viria a circular amplamente a partir de 2000, quando foi
publicado na antologia de textos sobre o sentido da vida organizada por Klemke para a.


Oxford University Press. Por esta altura, já o problema do sentido da vida era insistentemente abordado nas revistas académicas, surgindo também cada vez mais livros inteiramente dedicados ao tema.


Esta antologia põe o leitor em contacto com esses e outros importantes ensaios filosóficos contemporâneos sobre o sentido da vida. Os ensaios foram dispostos por ordem parcialmente cronológica e parcialmente temática.


O ensaio de Taylor é o primeiro desta antologia e apresenta uma resposta subjectivista ao problema do sentido da vida. Esta posição baseia-se na convicção de que, objectivamente, a vida não tem sentido; contudo, tem sentido para nós desde que sejamos felizes e estejamos imersos na própria vida. Esta é uma resposta muito comum entre pessoas que não são religiosas e que desconhecem a bibliografia sobre o tema — em parte, talvez, porque hoje em dia é comum pensar que "os valores" são relativos ou subjectivos. Será uma surpresa para o leitor descobrir que os filósofos actuais aceitam quase todos, como observa Levy no último ensaio desta antologia, a tese objectivista sobre os valores e o sentido da vida, defendida por Susan Wolf (cujo influente artigo se inclui nesta antologia) e David Wiggins.


O segundo ensaio da antologia é a referida conferência de Baier, que defende três ideias centrais:


1. A concepção que hoje temos do problema do sentido da vida está fortemente influenciada pela mundividência medieval judaico-cristã, segundo a qual a vida terrena é vista como meramente instrumental para a vida depois da morte.


2. A convicção contemporânea de que sem Deus a vida não tem sentido resulta precisamente de se juntar a descrença na existência de Deus com a concepção medieval de sentido. Mal se abandona a concepção medieval de sentido, a inexistência de Deus não põe em causa o sentido da vida. O leitor pode averiguar por si em que medida este diagnóstico de Baier se aplica ou não às ideias de Taylor.


3. Ao contrário do que é comum pensar por influência da mundividência judaico-cristã, só se Deus não existir é que a vida pode ter sentido. Baier defende assim uma posição sobre o sentido da vida antagónica à religião. O ensaio de Baier oferece ainda um estudo importante sobre a natureza das explicações, para clarificar a famosa pergunta de Leibniz (1646-1716): por que há algo e não o nada?


A Baier segue-se um artigo de Thaddeus Metz, que procura mostrar que algumas das críticas de Baier à teoria medieval do sentido da vida, concebida em termos de um propósito divino, são improcedentes. Contudo, apresenta outras críticas que no seu entender são suficientes para derrotar qualquer teoria do sentido baseada no propósito divino. Metz apresenta então um novo tipo de teoria do sentido da vida centrada em Deus, que não padece dos defeitos da teoria medieval do propósito. A sua conclusão é que este novo tipo de teoria, apesar de ser a mais plausível, apresenta

sérias dificuldades.


O quarto ensaio desta antologia é o referido artigo de Nagel. Na primeira parte, Nagel apresenta algumas refutações hoje praticamente canónicas de algumas ideias erradas sobre o sentido da vida. A ideia de que a nossa vida não tem sentido porque somos seres minúsculos, que habitam um minúsculo planeta num vastíssimo universo, é refutada fazendo notar que se a nossa vida não tem sentido por sermos pequenos, não se percebe por que razão ganharia sentido se fôssemos muitíssimo maiores. Nagel refuta também a ideia de que a vida não tem sentido porque somos efémeros e porque daqui a um milhão de anos ninguém se importará com o que fizermos hoje. Nagel defende que se a vida não tem realmente sentido, não se percebe como o adquiriria se a nossa existência fosse eterna; e que se o que hoje fazemos não terá importância daqui a um milhão de anos, então também não tem importância hoje que não tenha

importância daqui a um milhão de anos.


Na segunda parte do seu ensaio, contudo, Nagel defende que a nossa vida é absurda apesar de ser subjectivamente valorizada. Nagel considera que a nossa vida é absurda precisamente porque há uma dessintonia entre o valor que damos à nossa vida, subjectivamente, e o reconhecimento de que objectivamente a nossa vida não tem tal valor. A posição de Nagel parece depender de uma concepção anti-objectivista do valor, nomeadamente do valor moral, e essa poderá ser a sua maior fraqueza.


O quinto ensaio desta antologia, de Susan Wolf, marca uma fronteira importante nas discussões contemporâneas sobre o sentido da vida. Wolf defende uma concepção objectivista do sentido da vida, e uma subtil ligação entre a felicidade e o sentido, objectivamente concebido. Sem apresentar uma concepção objectivista do valor, problema que extravasa o tema do sentido da vida, Wolf defende que uma vida tem sentido quando consiste na entrega activa a projectos de valor.


O último ensaio desta antologia é também o mais recente. Neil Levy procura resolver um problema que fica aparentemente em aberto na concepção objectivista de sentido de
Wolf e de outros filósofos. Se a vida tem sentido quando nos entregamos activamente a projectos de valor, o que acontece à nossa vida quando atingimos os objectivos de tais projectos? Concordando com a intuição comum, manifestada por Taylor e vivida por John Stuart Mill (1806-1873), de que o sentido da nossa vida cessa mal os nossos projectos chegam a bom porto, Levy defende a existência de um certo tipo de projectos que são constitutivamente abertos; a entrega a projectos deste tipo garante aquilo a que chama o "sentido superlativo".

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